terça-feira, 4 de novembro de 2008

Capítulo cinco: um pouco de corpo...


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Como cartografar “esta totalidade cambiante, que por falta de uma palavra mais adequada chamamos indevidamente de corpo”? (GUERRA NETO, 2002, p.21)

Segundo Sant’anna (1995) na apresentação do livro Políticas do Corpo, as radiografias já não nos causam o mesmo espanto em nossos dias, pois mesmo nas clínicas, nos hospitais e também na mídia, o avesso dos corpos se tornou uma imagem banal. O silêncio dos órgãos foi perturbado, devastamos a intimidade de tudo aquilo que, dentro da pele, se mantém na obscuridade. Esta tal banalização é evidenciada pelos regimes de visibilidade que definem a verdade do corpo, da saúde e da doença, etc. Segundo a mesma autora:

“Um tal paradoxo convoca a presença do inesperado em cada tentativa de controle e de manipulação do corpo. Impossível, portanto, apreendê-lo de uma vez por todas, compreendê-lo em algumas linhas. Seu conhecimento é intermediável tanto para tanto quanto são diversificadas as bases culturais que, da medicina à religião, passando pela filosofia e pela antropologia, o constituem e o transformam.” (SANT’ANNA, 1995, p.12)

Segundo Lévi-Strauss apud Gil (1997) o ser humano no seu esforço de compreender o mundo dispõe sempre de um excedente de significação. É o corpo, então, um permutador de códigos por constituir o suporte das permutações e correspondências simbólicas entre os diferentes códigos presentes como afirma Gil (1997)? Ele também discorre que é no corpo que são operadas as passagens, e o mesmo é que recebe o poder de algo. O corpo constitui-se como uma totalidade única que, na sua fisiologia própria, não se reduz a uma unidade de matéria viva. O corpo humano é por assim dizer, auto-significado.

Talvez, tentar trazer uma cartografia do corpo seja como “dar lugar de importância ao corpo, a suas aptidões para emitir e receber signos, para o inscrever sobre si mesmo, para os traduzir uns nos outros. Talvez, o que se queira com essa cartografia do corpo seja utilizar o corpo para significar utilizando seus gestos, a sua plasticidade como um significante da linguagem, atendendo a que nós o vivemos como um suporte ao sentido. Ir do corpo significante, abstrato, a um corpo com significado concreto, trazer o corpo em comunicação com o mundo, “ir do corpo ao corpo” (GIL,1997).

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