terça-feira, 4 de novembro de 2008

Capítulo dois: Sobre Fotografia...


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O que seria a fotografia?

Segundo Fernando Floguiano (2002, p.161) analisar a fotografia como sistema de expressão envolto por uma teia de relações e possibilidades, implica estabelecer conexões entre Tecnologia, Ciência e Arte, áreas humanas influenciadas culturalmente onde se podem oferecer fenômenos que nos permitem conhecer estruturas do real e vivenciar experiências que ampliam o imaginário a partir de processos perceptivos. É importante reconhecer a profunda importância da imagem fotográfica como elemento que possibilita a produção científica, artística e cultural.

Segundo Parpinelle e Souza (2003, p.02) as fotografias carregam a história do fotógrafo que definiu no enquadre a paisagem e as pessoas cujo momento existencial se eterniza neste registro fotográfico, assim como “os recursos do equipamento técnico, a sensibilidade da película fotográfica à luz, a própria luz, a potência inorgânica que se entrelaça com a própria vida, enfim, tudo isso agenciando e produzindo um acontecimento vivo enquanto duração no aqui e agora”.

João Frayze-Pereira (1990) no artigo “Psicologia e Fotografia: Revelações” compara a excessiva ampliação da fotografia com um olhar demasiadamente aproximado da foto à procura desesperada de uma realidade sufocante do que está fotografado como algo que desmaterializasse e perdesse o seu referencial simbólico.

Evgen Bavcar, fotógrafo cego no filme “Janela da Alma” (2001) diz que “o mundo perdeu a visão, não vemos mais nada porque perdemos o olhar interior, perdemos o distanciamento - vivemos em uma espécie de cegueira generalizada”. José Saramago também fala no mesmo filme que todos nós estamos cegos. “Cegos da razão, da sensibilidade...” Paulo Cezar Lopes ainda no mesmo filme diz que “a realidade real não existe na verdade, sempre é um olhar, um olhar condicionado... cada experiência de um olhar é um limite, conhecemos as coisas como elas ‘são’, só mediado pela nossa experiência”.

Oliver Sacks, neurologista, no mesmo filme, concorda que “os olhos não são passivos. As coisas não entram sem que nada saia de dentro. O que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento, anseios, desejos, emoções, cultura, teorias científicas... mapear o mundo com os olhos, com os movimentos, com o tato- sinais que constroem as referências.” Assim, também fala José Saramago quando cita que “pra se conhecer as coisas, há que dar-lhes a volta, dar-lhes a volta toda. Vivemos na caverna de Platão.

Em relação ao mundo das imagens em que nos encontramos hoje, podemos ter relatos sobre uma estética e uma ética em relação à produção imagética. Segundo Win Wenders, cineastra, ainda em “Janela da Alma”, “as imagens não nos tentam dizer algo, mas nos vender algo.” Ele ainda cita a criação de sentidos como uma necessidade humana. “Temos tudo em excesso. Por isso não temos nada. Ter imagens em excesso significa a não capacidade de prestar atenção e nos emocionarmos. Não conseguimos mais ver a simplicidade.”

Para Gomes (2007) o olhar tem que ser apurado, educado e preparado para perceber o invisível, tanto na psicologia como na fotografia, mesmo sabendo da impossibilidade de uma plena transparência do olhar. Tal impossibilidade é precisamente o que torna esta busca tão instigante para a autora. A fotografia no campo da psicologia estimularia um tipo de referência focalizando a fotografia como um instrumento que adentra em outras linguagens. Esta seria uma proposta de linguagem por seu valor tanto no registro como na possibilidade da ampliação do olhar do pesquisador. “A fotografia é útil na procura de agenciamentos, no corpo ou nos seus detalhes do corpo” (GOMES, 2007, p.08).

Para a mesma autora citada acima a fotografia seria uma contribuição produtiva como instrumento metodológico útil à psicologia, como instrumento que aguça o olhar. Ainda para complementar a autora cita Rolnik (1985) e cita que “pensar a subjetividade como se observássemos a superfície da pele, inicialmente compacta e quieta- implica em um conceito de ‘subjetividade’ ligado a um “modo de ser” – a superfície da pele tem movimentos, não é estática e se reconfigura a cada instante (Op. Cit., p.09).

A fotografia poderia ser vista, portanto, como uma a busca constante de expressão, busca de criação de mundos, de existencialização e desterritorializações, expansão de vida, cartografia.

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