terça-feira, 4 de novembro de 2008

Capítulo um: Sobre Cartografia...

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Colhendo citações de Suely Rolnik em Cartografia Sentimental- Transformações Contemporâneas do Desejo (1989, p.15) sobre “cartografia” podemos dizer que esta, é aquilo que “acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamento de certos mundos”, mistura-se e compõem-se em seu processo de criar. Cartografia é antropofagia.

Aprofundando mais sobre o conceito de cartografia a mesma autora faz um paralelo entre o que seria a cartografia para um geógrafo. Para este, a cartografia é “um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação da paisagem” (Op. Cit., p.15) e completa sua citação abordando que é possível também a cartografia de paisagens psicossociais. Ela destaca que o que se procura com a cartografia é o processo de produção de universos psicossociais, isto é, desejo, movimentos de afetos gerados no encontro. Este processo de produção do desejo é o movimento de criação de sentido para se efetuar passagens. Na cartografia, o que se tem é um corpo vibrátil onde nos encontros os corpos se afetam, se atraem ou se repelem. Nestes encontro os corpos são tomados por uma mistura de afetos que podem compor um plano de consistência ou até mesmo gerar um território existencial (Op. Cit.,p.27).

Não se tenta com a cartografia explicar, entender ou revelar algo, e sim a busca constante de expressão, a busca de criação de mundos, de existencialização e desterritorializações, onde seu parâmetro é a expansão da vida num sentido micropolítico* de produção de desejo. Opera-se na cartografia o que a autora chama de intensidades, que “em si mesmas não tem forma nem substância, a não ser através de sua afetuação em certas matérias” (Op. Cit.,p.31).

A cartografia aqui, é usada como um dispositivo para a produção de um novo olhar sobre o corpo que, segundo Denise Mairesse em Cartografias e Devires: a construção do presente (2003, p. 271):

“...é árdua e cheia de encruzilhadas, onde não há melhor caminho, nem o mais correto, não existe o verdadeiro, nem o falso, mas se encontra sim, o mais belo, o mais intenso, o que insiste em se presentificar, o que causa estranheza, temor..., o que se equivoca, se atrapalha..., o que falha. São pelos desvios que se começa a jornada, pelas linhas mal/bem traçadas do desejo que se realiza a cartografia, potencializando vidas em territórios complexos e heterogêneos de forças que se imiscuem umas às outras num constante jogo de poder e afeto característicos de qualquer grupo composto por sujeitos.”

Tendo em vista que na cartografia, segundo Rolnik (1989) o parâmetro básico é a expansão da vida onde são expressos afetos que nos encontros pedem passagens, como fazer então uma cartografia do corpo através da fotografia?

* Micropolítica é a política gerada no plano da cartografia, onde há apenas intensidades e não individualidades, os processos marcados aqui são devires que correspondem à singularidade, é como um rizoma, é um plano que faz ao mesmo tempo que seu processo de composição. (ROLNIK, 1998)
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