terça-feira, 4 de novembro de 2008

Capítulo três: Uma arte, uma técnica, uma fotografia...


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A arte seria a unidade do eterno e a busca do novo que realiza-se pelos e para os humanos. Seria recriar o mundo noutra dimensão e de tal maneira que a realidade não está aquém e nem na obra, mas sim, seria e é a própria obra de arte. (CHAUÍ, 2000)
Arte vem do latim “ars” e corresponde ao termo grego tekhnê – técnica – toda espécie de atividade humana submetida a regras. Significa habilidade, agilidade, instrumento, ofício, ciência. Arte seria um conjunto de regras para dirigir uma atividade humana qualquer. Artes ou técnicas seriam atividades de fabricação, trabalho de expressão (CHAUÍ, 2000). Nesta palavra, há simultaneamente a idéia de técnica, de um saber aplicado e a idéia de arte, invenção de produção original (CHÂTELET, 1994).

Para Chauí (2000) a arte não pretenderia imitar a realidade (mimesis), nem ser ilusões sobre a realidade, mas exprimir por meios artísticos a própria realidade. A arte contemporânea se manifestaria de variadas maneiras por exemplo, seja na fotografia, no cinema ou no design, ela ilustra o modo como arte e técnica se encontram e se comunicam. A fotografia e o cinema surgem como técnicas de reprodução da realidade. Depois tornam-se interpretações da realidade e artes de expressão. Da obra de arte, não se espera nem se exige funcionalidade, havendo plena liberdade para lidar com formas e materiais.
Autores relacionam a arte e o humano de variadas maneiras. Platão por exemplo, concebia a arte como forma de conhecimento. Aristóteles tinha a arte como atividade prática fabricadora. No romantismo a arte era o órgão geral da filosofia e tinha, assim, três aspectos diferentes como a única via de acesso ao universal e ao absoluto, para Hegel era como a primeira etapa da vida consciente do espírito e para Heidegger a arte era o único caminho para reatar o singular e o universal, o particular e o geral, pois através da singularidade de uma obra artística, temos o acesso ao significado universal de alguma realidade- desvelamento e desvendamento da verdade (CHAUÍ, 2000).

A estética concebe a atividade artística como meio de expressão. Para Deleuze (1992) a vidência faz da imagem algo legível no sentido da independência dos parâmetros e a divergência das séries, mais ainda que visível. A imagem torna-se pensamento. Para este autor a fotografia seria um molde ou uma modelagem.

A fotografia é um dispositivo para a criação de conceitos. Segundo Deleuze apud Feitosa (2004), os conceitos podem ser invisíveis, não são transcendentes, como se estivessem para além de toda experiência humana. Os conceitos têm história, se encaram e se efetivam nos corpos, não são verdades absolutas e eternas, mas estratégias do pensamento para lidar com problemas e questões. Segundo o mesmo autor a arte não é apenas reprodução, mas sim a invenção do real.

No que a técnica influencia na arte? Segundo Caiafa (2000), ela muda padrões de percepções. A criação pode ser investida de uma singular força de transformação, a arte é a busca de estratégias para o pensamento e ações. Segundo esta autora, a fotografia se dá na experiência do choque, comparando o processo do “flash” com o de acender um fósforo: processos complexos disparados com um simples gesto. Esse acionar, é como um gesto que resume vários outros gestos, aqui se dá uma nova dinâmica perceptiva.

A questão lançada pela autora é: Como esse gesto do “click” poderia criar novos padrões perceptivos transformando a experiência humana? A pose de um momento, o fixar brusco de um momento que se faz decorrer a singularidade do instante na imagem. Ela afirma que é numa dimensão da experiência que o desejo se inscreve, assim como em qualquer criação. Para ela o consumo das imagens é um acontecimento esvaziado de trazer pra perto, trazer pra si.

A fotografia é uma possibilidade de uma duração infinita de um momento que não mais se repete. Ela encontra uma expressão criadora numa arte do instante. É a relação de interação com um momento, uma história que sempre é criadora a cada vez que contada. História sem fim por não se esgotar no momento da aparição, desse encontro, ressonâncias para se continuar criando (singularidade), fazer criar a partir da criação e não apropriar-se dela, completá-la como uma informação sem haver interação (CAIAFA, 2000).
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