terça-feira, 4 de novembro de 2008

Capítulo dezenove: Um corpo... comtemporâneo.


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Para Kunzru (2000), eis a era do ciborgue, onde temos formas inteiramente novas de subjetividade, de mundos em mutação, trata-se de uma nova carne. Esta Era baseia-se na idéia de que em conjunção com a tecnologia torna-se possível a construção de identidades, sexualidades e gêneros de acordo com a nossa vontade. Se antes não se sabia dizer sobre a fronteira entre o humano e o animal, agora não se sabe sobre a barreira entre o humano e a máquina.

Segundo Silva (2000), o corpo contemporâneo, tecnológico não tem um limiar preciso de onde se termina o humano e onde começa a máquina, eis, assim, a realidade do corpo humano como ciborgue. Este limiar é colocado a partir dos processos que transformam radicalmente o corpo humano, seres humanos que se tornam em variados graus artificiais. Implantes, transplantes, enxertos, próteses, órgãos artificiais, modificação genética, anabolizantes, vacinas, psicofármacos, superatletas, supermodelos, superguerreiros, clones, máquinas, seres artificiais quase humanos. Aqui há uma mecanização e eletrificação do humano, um humano que subjetiva a máquina. Temos a ciência e a tecnologia atuando sobre o corpo (KUNZRU, 2000).

Segundo Haraway (2001, p.137), “estamos dolorosamente conscientes do que significa ter um corpo historicamente constituído”. Hoje trata-se o corpo humano como ciborgues, um corpo que é um “computador de carne, executando uma coleção de sistemas de informação que se auto-ajustam em resposta aos outros sistemas e ao seu ambiente”.

Estes pequenos detalhes da história do corpo humano mostram-nos o mesmo como algo que constitui-se como uma totalidade única que, na sua fisiologia própria, não se reduz a uma unidade de matéria viva: o corpo humano é por assim dizer, auto-significado. Não importa a maneira como nosso corpo se comporta diante do tempo, assim, nos parece coerente a partir deste mesmo autor, acreditar que: “... o tempo mora no corpo. O corpo guarda o percurso de sua história ‘humana’” (Gil, 2000, p. 133) .

É trazido aqui o corpo em variadas perspectivas, ele é colocado como um objeto de estudo olhado ou em sua fisiologia ou em sua aparente capacidade de expressão do “humano”. Assim o corpo é estudado, é significado, é traduzido e falado pelas diversas ciências, mas pelo que nos parece, como diz Gil (2000) em Metamorfoses do Corpo, este “falar” sobre o corpo é fazer o corpo não mais existir por si próprio. É como se o corpo tivesse se perdido nos próprios signos, na história, na ciência, nas instituições, etc.

Segundo Sibília (2002, p.10) “o homem é definido justamente por sua indefinição, ou seja, por sua plasticidade”. Ela ressalta que a era do humano está chegando ao fim. O que se tem hoje é um ser humano que se configura de diversas maneiras pelas histórias e geografias como algo plástico, moldável, inacabado, versátil etc. Eis aqui formações sociais baseadas no capitalismo moldurando corpos e subjetividades. A autora cita Deleuze definindo nossa sociedade como sociedade de controle, onde vivenciamos a transição para outro tipo de formação social, caracterizada por um novo regime de poder e por tecnologias inovadoras de formatação dos corpos e das subjetividades (SIBÍLIA, 2002, p.12).

Surge nesse contexto uma possibilidade inusitada onde o corpo humano passa da condição de biológico para obsoleto, ela justifica essa afirmação trazendo a velocidade da evolução tecnológica em cima da evolução biológica do homem. É internalizado um novo imperativo num jogo que mistura prazeres, saberes e poderes. Eis o desejo de atingir a compatibilidade total com o tecnocosmos digitalizado (Op. Cit, p.13).

Surge a nova era, a pós-humanidade, pois agora a criatura humana passa a dispor das condições técnicas necessárias para se autocriticar, ser um gestor de si na administração do seu próprio capital privado para escolher como modelar seu corpo e sua subjetividade a partir das opções disponíveis no mercado. Há uma dissolução entre o organismo natural (corpo biológico) e os artifícios colocados pela tecnociência para o humano. Tais tendências mostram-se como projetos de “fabricação do corpo” (Op. Cit, p.16) Com essa fabricação do corpo emergem novas subjetividades e novos tipos de corpos respondendo a seus estímulos e pressões, mas também criando novas dobras e torções (Op. Cit., p.18).

A mesma autora ressalta que afastados da lógica mecânica e investidos pelo novo regime digital, os corpos contemporâneos se apresentam como sistemas de processamento de dados, códigos, perfis cifrados, feixes de informação. “Entregue às novas cadências da tecnociência, o corpo humano parece ter perdido a sua definição clássica e a sua solidez analógica tornando-se permeável, projetável e programável” (Op Cit., p.19).
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